O que fica quando fecha
Esta série dá continuidade às experimentações do artista com materiais farmacêuticos — um gesto que desloca seu uso clínico para o campo simbólico. Ao utilizar a técnica esparadropping, que consiste em colar tiras de esparadrapo sobre o papel sem um desenho prévio, as obras vão surgindo do acaso, ora contidas, ora extrapolando os limites dos adesivos. Na superfície são aplicados tinta acrílica, pastel, grafite e iodo — um antisséptico que mancha, evanesce com o tempo e cura. A presença do iodo não apenas imprime cor, mas introduz o tempo no centro das obras: curar é experimentar a passagem dos dias, é aceitar o desbotamento que indica o apagar das feridas. Mas as feridas, de fato, se vão? Nos quadros, sempre inacabados, o papel kraft avança sobre a imagem como um não-fim, como uma ferimento em estado de latência. As figuras representadas são quase triviais, mas evocam temas inflamados: a propriedade, o homem, a tecnologia, a religiosidade, enfim, a tragicomédia da existência. Nessas telas nada se resolve. O que se vê é uma tentativa — de cobrir, de expor, de entender — que não se pretende definitiva. Curar talvez seja isso: conviver com o que não fecha ou acaba.

Pastel, acrílica, grafite, esparadrapo e antisséptico sobre papel kraft 112x76cm

Pastel, acrílica, grafite, esparadrapo e antisséptico sobre papel kraft 112x76cm

Pastel, acrílica, esparadrapo e antisséptico sobre papel kraft 112x76cm

Acrílica, pastel, grafite, esparadrapo e antisséptico sobre papel kraft 112x76cm

Pastel, acrílica, grafite, esparadrapo e antisséptico sobre papel kraft 112x76cm

Pastel, acrílica, esparadrapo e antisséptico sobre papel kraft 112x76cm

Pastel, acrílica, grafite, esparadrapo e antisséptico sobre papel kraft 112x76cm

Pastel, acrílica, esparadrapo e antisséptico sobre papel kraft 112x76cm