A série Burricus, ou "Artesséptica do burro", é uma fábula visual do cotidiano, em que burros assumem o protagonismo como "espelhos" de uma humanidade gregária, ferida e em busca de sentido. Inspirada no comportamento de manada, a série retrata esses animais em cenas urbanas – entre carros, avenidas, prédios e vitrines – por meio de traços livres, desorientados, como os de uma criança, explorando a simplicidade da percepção primária. Os antissépticos, presentes nas telas, são memórias de quedas, machucados e dores da infância e também metáfora de uma sociedade na sua utopia por cura e redenção. Misturados a giz de cera, grafite, lápis de cor e rabiscos desconexos, esses materiais de farmácia criam camadas simbólicas e estéticas que oscilam em meio à paisagem caótica. Burricus é, assim, uma experiência sensorial e poética, um prisma por meio do qual o burro – persistente, social e obediente – nos devolve o olhar perdido da criança entre a lógica do progresso e os instintos mais primitivos.